Foi bom enquanto durou - Portugal

Residi em Lisboa por um ano e três meses.

Essa experiência magnífica que vai pra além da conquista com estudos e rede de contatos profissionais, é na verdade o maior dos tratamentos de choque entre o contraste da realidade e da fantasia. Foi uma fase curta, mas que parece ter durado muitos e muitos anos, pois o amadurecimento forçado foi impactante.

Num curto espaço de tempo vi Portugal cair muito com a crise financeira, cultural e social da Europa. Foram inúmeras as greves que presenciei. Senti na pele o aumento do custo de vida aqui. Os preços de transporte, alimentação, impostos, etc. aumentaram subitamente. A vida aqui passou a ser mais cara. Em consequência disso, vi o estúpido aumento da pobreza. Cada semana que se passava, aparecia mais um novo pedinte nos vagões do metrô. Esses novos pobres e pedintes pareciam iniciantes, em comparação para quem é do Brasil e lida com a pobreza como uma situação do dia a dia. Foi realmente triste ver um povo com uma cultura de trejeitos melancólicos e bucólicos, como é representado no fado, se deixar levar pelo fardo da crise e da austeridade. Entretanto, acredito que a situação aqui vivida não passou a ser realidade da noite para o dia. Toda essa situação é uma avalanche de consequências de atitudes passadas e de ações atualmente tomadas pelo governo português, pelo seu povo e pelos governos dos outros países que também geram consequências a economia local.

Apesar dessa parte triste que esse país vive e, que eu pude presenciar um pouco à distância, foi de fato a fase mais intensa, mais representativa, mais enérgica, mais importante para a minha vida até o momento.

Nesse período que vivo aqui, aprendi muita coisa com a experiência de morar em Portugal e encarar as consequências disso. Errei muito e também acertei. Conheci a ótima e perigosa sensação de liberdade de uma forma antes não vivenciada. Conheci pessoas incríveis e também péssimas pessoas. Arquei com a consequência das más amizades e do preconceito. Bem como do sentimento de estar sozinha e dos perigos que se corre quando você tem que construir relacionamentos e adquirir confiança rapidamente nas pessoas que vão cruzando seu caminho. Afinal, sem ajuda ou informação das outras pessoas, você dificilmente seguirá em frente.

Nesse jogo de relacionamentos também fui iluminada com a amizade linda de algumas pessoas especiais, que sabem que fizeram toda a diferença na minha vida. Um dos meus maiores desafios foi conviver com a saudade. Estar longe da minha família, do meu namorado, dos meus amigos de longa data, da minha zona de conforto, foi algo muito difícil e doloroso. Entretanto, as festas, os momentos de alegria, de descobertas, foram fantásticos, como as minhas lindas viagens pela Europa e África. Sem falar na melhor das experiências que foi viajar sozinha para Berlim e Ilha da Madeira.

No final, vejo que tudo valeu a pena, até mesmo os erros que cometi e as armadilhas que cai. Porque a vida é assim, feita de conquistas, alegrias e tristezas. Aprender a aceitar as estruturas de poder e viver em paz mesmo vendo as injustiças ocorrerem, também faz parte. Assim, percebo que amadureci muito e, com certeza, vivi a mais intensa e completa fase de auto análise e conhecimento de mim mesma, ou seja, a verdadeira construção da frase: quem sou eu.

Conclusão: Para chegar a atitude de morar fora do seu país e largar todo o seu conforto pra trás, é porque você inconscientemente e conscientemente está sendo levado pelas duas perguntas: do que estou fugindo e o que estou buscando. A vida temporária em Portugal é, com certeza, o mundo paralelo ao seu mundo real. E, você sabe que um dia você vai retornar ao seu mundo real. Todavia, vai levar os aprendizados do mundo paralelo para o seu mundo real ser melhor do que era antes. Esse retorno dependerá do tempo que você precisa para responder àquelas duas perguntas e saber também responder: quem sou eu e o que quero da minha vida.

E viva os meus 26 anos de vida bem vividos e muito intensos, como a minha personalidade!

Até uma próxima...

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