Indústria Cultural e Criativa

Nos dias 13 e 14 de outubro participei de um simpósio de economia criativa, em Lisboa. Foi muito bom e a qualidade dos palestrantes era ótima. E, a melhor parte: entrada gratuita.


Nesse simpósio vieram palestrantes do Brasil, de Portugal e da Inglaterra. Um dos palestrantes que eu mais gostei foi um brasileiro chamado Renato Flores que é Prof. na Escola de Pós-Graduação em Economia da FGV.


Gostei muito da apresentação dele por sua objetividade, humor, simpatia e direcionamento da temática. Pelo meu entendimento da palestra dele, a Indústria Cultural e Criativa ocorre da seguinte maneira sob a visão da economia. Essa indústria tem três subgrupos:
- Orientadas para o mercado (software, jogos, P&P, design, arquitetura, bens de luxo)
- Questões culturais (artes cênicas, arte e artesanato)
- (mídia, imprensa, livros, música e filmes)


Bem, a questão é que essa indústria faz parte do setor de serviços que não atinge a economia de escala, mas isso não quer dizer que não possa ser produtivo. E, a sua produtividade é contabilizada quando se "desencarna" a produção no registro de DVD, de um CD ou em outro produto qualquer que reproduza aquela obra ou espetáculo. Uma questão difícil é como trabalhar a sustentabilidade nesse contexto. Outras questões difíceis de se responder é como valorar o preço desses símbolos criados nessa indústria. Logo, imagine a dificuldade em se financiar um projeto ou programa cultural, uma vez que que a sua valoração é difícil de ser mensurada. Apesar da dificuldade em se valorar esse "produto", existem estudos que relatam a indústria cultural e criativa em terceiro lugar no ranking de produtividade econômica no PIB dos países que incentivam essa área.


Uma outra questão discutida por esse brasileiro é o fato das empresas dessa indústria, na grande maioria, terem menos de 10 empregados cada uma. Porém, a sua cadeia de valor é fragmentada, pois desde a ideia criativa até a comercialização desta há inúmeras empresas para que o "produto" seja lançado ou realizado. Por isso, já se percebe em alguns produtos, principalmente, do artesanato entre outros dessa indústria as seguintes palavras: thought and made. Isso significa que aquela produto pode ter sido pensado, ou seja, a ideia daquele produto foi tida em um país diferente daquele que o produziu.


Agora, uma das características mais questionadas nessa indústria é sobre o papel dos governos. E, esse profissional brasileiro declarou que o papel está na conduta e elaboração de medidas legais que facilitem a operação e o financiamento da realização e comercialização desses serviços e produtos. Bem como, o apoio a rede de comunicação e a criação de mecanismos que ajudem as pessoas criativas a desenvolver seus trabalhos, principalmente nos pólos criativos de algumas cidades. Esses apoios institucionais do governo deveria ocorrer com muita ênfase, pois um fato que ocorre é a pessoa quem deu a ideia não ganha devidamente por sua ideia que foi produzida e comercializada por outros intermediários.


Há também nessa área uma grande discussão sobre os direitos autorais das ideias que surgem nessa indústria que por vezes o excesso destas dificultam a difusão da criatividade. Mas há quem é contra deixar ao criador da ideia livre de direitos autorais.


Uma dúvida que surgiu no final da explanação deste profissionais foi: o que falar de mensuração quando o subgrupo das questões culturais se encontra na área do turismo? E, a resposta dada pelo professor foi: A área do turismo é um estudo a parte. Uma vez que o turismo é mensurado como exportação, pois o cliente tem que se deslocar até o produto turístico.


Vejamos, acha que a resposta dele foi suficiente a essa pergunta? Eu acho que não, mas prefiro não comentar sobre essa complexidade, no momento.


Durante esse simpósio várias outras palestras foram apresentadas e cases de sucesso. Mas não vou aqui explanar sobre todas elas. Se tiver interesse ou curiosidade me mande um e-mail ou entre nesse site e saiba mais sobre a programação e os profissionais convidados. http://www.experimentadesign.pt/2011/pt/02-04-04.html


Apenas mais uma coisa que eu gostaria de comentar. Esse comentário é sobre o Caio Luiz Carvalho que é presidente do Instituto da Economia Criativa de São Paulo e presidente do São Paulo Turismo. Bem, eu não pude assistir a palestra que ele deu, mas pude assistir ao debate em que eles estava presente. Nesse debate ele disse:
- Portugal tem que pensar no momento em que diz que deseja tanto investir na criatividade da cidade, na inter-relação de todas as artes e comercializa-las. Pois, tem que se, primeiramente, pensar em quanto de demanda quer se atrair com essa ação em quanto a demanda de fluxo de pessoais para Portugal irá aumentar com esse investimentos. Bem como, saber que demanda é essa que eles gostariam de ter presentes no consumo dos serviços e produtos dessa indústria cultural e criativa.


A continuação do raciocínio dele deu-se da seguinte maneira:
- Eu falo isso porque em São Paulo o turista que vai pra praia no final de semana ou no feriado, cria uma grande demanda para a região das praias e só gasta em média 75 dólares. Já o turista de eventos e negócios que vai para a capital gasta em média 250 dólares. Agora, pergunte-me, qual desses turistas que eu prefiro? É claro que o de feiras, eventos e negócios que me geram muito mais economia para a cidade, do que os turistas que praia que além de deixarem menos dinheiro, trazem muitos problemas.


Não contente ainda com sua explicação de raciocínio, ele ainda continuou:
- Veja a minha situação. Teremos a Copa em 2014. Não é um bom negócio. Pois, quem é o turista que vai pra São Paulo por causa da Copa? Aquele que adora tomar cerveja e torcer pelos jogos, e só.


Bem, a minha indignação sobre o comentário lamentável, capitalista e extremamente cartesiano desse profissional, faz-me lembrar dos porquês da área do turismo não ser tão bem sucedida e desenvolvida no Brasil, de maneira tal que possa privilegiar todas as interfaces que essa área proporciona. Também, não posso julgar de todo ruim esse comentário dele, pois há uma lógica financeira e plausível para o papel de presidente do São Paulo turismo que ele está inserido. É provável também que esse comentário veio a calhar bem no momento do debate em que ninguém tinha ainda julgado a questão financeira da decisão em se investir fortemente no desenvolvimento da indústria cultural e criativa em Portugal.


Abaixo, estão algumas fotos do lugar onde ocorreu esse evento e de manifestações criativas na cidade, em que meu olhar se direcionou.




Nessa foto está o local onde nos serviam o coffee break. Observem os detalhes do design do balcão de atendimento. Consegue ver uma mesa de máquina de costura antiga adaptada?




Aqui está o espaço aberto onde as pessoas se descontraiam durante os intervalos.

Essa foto é o local da plenária onde eram apresentadas as palestras. Esse local é dentro do antigo tribunal da Boa-Hora. Observe os azulejos do lado esquerdo, isso tudo era desenhado. Sei que a foto não está boa para observar isso perfeitamente... 


Essa foto demonstra a criatividade na forma de utilizar a iluminação em certas partes da estação Baixa-Chiado do metro.


Aqui está um exemplo da arte na educação, para tentar sensibilizar as pessoas sobre a boa conduta na utilização do metro para o bom convívio de todos. Para saber mais sobre a arte no metro em Lisboa, entre nesse site: http://www.metrolisboa.pt/  


Aqui está sendo exibido uma programação cultural que ocorre na cidade e dentro de algumas estações de metro, bem como algumas notícias e clima. Isso é uma projeção na parede da estação baixa-chiado. 


Até uma próxima...


2 comentários:

  1. Que bom descorrer controvérsias, o contraponto tb é importante. Afinal, a visão do utilitarismo econômico tem sido uma das bases do capitalismo ocidental.

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  2. Tal capitalismo ocidental que tem demonstrado suas fraquezas e males. Temos que achar um meio termo na gestão do sistema econômico. Não é à toa que diversos países ainda transitam numa crise financeira caótica, principalmente os da Europa. A visão do utilitarismo econômico é importante dentro de um contexto sistêmico, não de maneira cartesiana. Bjuxxx

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